terça-feira, outubro 23

Pontas de um nó

Viver entre as duas pontas não é uma tarefa fácil. É um caminho solitário, porque não há estrada. Não se segue nada. Não se encaixa. Não se vive. Só desbrava. Dialoga consigo mesmo. Com as partes que se cabem, que se somam, que se confrontam.

Mais pontas se achegam. Se fundem. Confundem. O certo e o errado, o bem o mal, a religião e a ciência, o passado e o futuro, o novo e o velho, a razão e a emoção, o real e o insano. O real insano. Um só nó. Ou vários deles.

É doloroso e espantosamente prazeroso beirar entre um e outro. Beirar em si mesmo. Beirar uma compreensão inventada. Uma compreensão a todo tempo ameaçada. Gozar das delícias do "tudo" e amargar o ônus do mesmo "tudo ou nada".

A interrogação reina. Não dá resposta a nada e dá sentido a tudo. Me dá falta de ar. Me faz respirar.

Como entre todas as pontas eu me perco, também já me perdi entre o começo e o meio. Por ser insano, por ser difícil. Por ser um nó.

Ficar em cima do muro parece ser confortável, e muitas vezes é. Acho até que me perdi de propósito, pois não sou afeito a pontas. Apesar de ser um buscador, acho que não quero encontrar nunca. Quero ficar nesse nó.

Nenhum comentário:

Postar um comentário