Lá
estava eu. Pensando em milhões de coisas, sentada no banco especial,
com a cabeça na lua, voltando de vez em quando pra ver se tinha que dar o
lugar pra alguém..."Projeto, clima, vaga, sono, html, ele tá
exagerando, tenho que escrever o conceito criativo, ligar para Adriana,
acho que já tá chegando..."...um vulto para ao meu lado, interrompo
meu pensamento pra ver se ela é especial, mas fico horas olhando. Os
olhos claros sem cor definida destacando os cabelos laranjas,
contrastando com a pele quase albina e o batom vermeeeelho, passado além
do lábio, mas sem borrar. Não conseguia parar de olhar. Até levantava a
cabeça sem disfarçar para entender o que estava embrulhado no cachecol
verde e virava os olhos sem nem perceber. Aquela mulher me deixou alguma
coisa que eu não sei.
Ela
desceu num ponto, eu no seguinte. Olhava pra trás constantemente, para
os lados, pra cima e pra baixo e não via ninguém, mas tinha alguma
coisa. Andando até em casa, continuo aflita, para um carro cinza bem na
hora que fui passar, passei e ele foi. Não entendi. As milhões de coisas
voltavam misturadas com aquela sensação, interrompidas por uma garrafa
de plástico verde amassada no meio da rua e um carro que passava sem um
pedaço da frente. Ao virar a esquina, vinha aquele barulho do bairro,
que nem me irritava mais porque mal conseguia olhar para os lados. Tinha
alguma coisa, faltava alguma coisa, olhei cada degrau da escada para
verificar se não tinham ratos e desci ofegante em segundos. A rua estava
calma, um saia outro entrava, olhava para os lados e nada. Entrei,
olhei pro céu mais uma vez, e segui minha vida como se tudo não passasse
de esquisitisse minha.
Quando deitei a cabeça no travesseiro, já exausta de tudo, me dei conta que não tinha visto a Lua.
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