Viver entre as duas pontas não é uma tarefa fácil. É um caminho solitário, porque não há estrada. Não se segue nada. Não se encaixa. Não se vive. Só desbrava. Dialoga consigo mesmo. Com as partes que se cabem, que se somam, que se confrontam.
Mais pontas se achegam. Se fundem. Confundem. O certo e o errado, o bem o mal, a religião e a ciência, o passado e o futuro, o novo e o velho, a razão e a emoção, o real e o insano. O real insano. Um só nó. Ou vários deles.
É doloroso e espantosamente prazeroso beirar entre um e outro. Beirar em si mesmo. Beirar uma compreensão inventada. Uma compreensão a todo tempo ameaçada. Gozar das delícias do "tudo" e amargar o ônus do mesmo "tudo ou nada".
A interrogação reina. Não dá resposta a nada e dá sentido a tudo. Me dá falta de ar. Me faz respirar.
Como entre todas as pontas eu me perco, também já me perdi entre o começo e o meio. Por ser insano, por ser difícil. Por ser um nó.
Ficar em cima do muro parece ser confortável, e muitas vezes é. Acho até que me perdi de propósito, pois não sou afeito a pontas. Apesar de ser um buscador, acho que não quero encontrar nunca. Quero ficar nesse nó.
terça-feira, outubro 23
quinta-feira, outubro 18
Reinvente-se
Dizem que reinventar-se é bom. Não sei ao certo se é bom ou apenas se é preciso.
Nos reinventamos todos os dias para enfrentar situações que não seriam devidamente enfrentadas se não fôssemos reinventados a todo momento por situações que precisamos enfrentar todos os dias.
Se é para reinventar, reinvente-se como queira. Reinvente-se do zero ou do 80%. Reinvente a reinvenção, mas reinvente-se. E se não reinventar direito, tente o esquerdo ou apenas tente de novo. E de novo. E novamente. Mas saiba que nunca ficará bom. Caso fique, não se alegre. Se entristeça ou se alivie. Porque só enquanto não for bom o suficiente, viverá.
Viver nada mais é que precisar reinventar-se. Do contrário, acabou.
Nos reinventamos todos os dias para enfrentar situações que não seriam devidamente enfrentadas se não fôssemos reinventados a todo momento por situações que precisamos enfrentar todos os dias.
Se é para reinventar, reinvente-se como queira. Reinvente-se do zero ou do 80%. Reinvente a reinvenção, mas reinvente-se. E se não reinventar direito, tente o esquerdo ou apenas tente de novo. E de novo. E novamente. Mas saiba que nunca ficará bom. Caso fique, não se alegre. Se entristeça ou se alivie. Porque só enquanto não for bom o suficiente, viverá.
Viver nada mais é que precisar reinventar-se. Do contrário, acabou.
Quando percebemos
Quando percebemos que a felicidade só existiu no passado, é como se o resto só fosse pôr uma perna em frente a outra.
Quando percebemos que o que temos de mais verdadeiro ficou no passado, é como se todo o resto fosse vivido por outro.
Quando percebemos que o melhor de nós ficou no passado, é como se todo o resto fosse ruim.
Quando percebemos que não somos nós mesmos, que somos ruins e infelizes, é porque estamos vivos e ainda nos percebemos.
E quando nos percebemos vivos, é porque ainda há vida.
E se há vida, há chaces de percebermos tudo diferente daqui alguns anos.
Quando percebemos que o que temos de mais verdadeiro ficou no passado, é como se todo o resto fosse vivido por outro.
Quando percebemos que o melhor de nós ficou no passado, é como se todo o resto fosse ruim.
Quando percebemos que não somos nós mesmos, que somos ruins e infelizes, é porque estamos vivos e ainda nos percebemos.
E quando nos percebemos vivos, é porque ainda há vida.
E se há vida, há chaces de percebermos tudo diferente daqui alguns anos.
Rasguei-me
Quando me rasgastes, rasguei um pouco de ti. Rasguei a parte errada e rasguei mais de mim. E é rasgada que ainda muito me espanto ao perceber que sofrendo por ti, eu era mais feliz.
A lembrança mais bonita que tenho em mim
Guardo você. Aguardo o dia em que vai voltar e consertar o que quebrou. Aguardo algo que, milagrosamente, vai me desenterrar de minhas lágrimas. O dia em que vai ficar observando-me desentalar tudo o que ficou ferido. E quando eu não aguentar mais conter o pranto, vai juntar-se a mim, olhar bem nos meus olhos e dizer que tudo não passou de um mal - entendido. Descobriremos que fomos enganados por qualquer coisa que nos justifique, e por mais doloroso que seja, seremos felizes só por estarmos juntos, e isso nos bastará.
Aguardo todos os dias, até me dar conta que já desliguei a televisão e que já não espero mais nada. Nada além de um olhar dizendo: "Meu amor acabou, mas é a lembrança mais bonita que tenho em mim." E isso, talvez, enxugará meu travesseiro.
Aguardo todos os dias, até me dar conta que já desliguei a televisão e que já não espero mais nada. Nada além de um olhar dizendo: "Meu amor acabou, mas é a lembrança mais bonita que tenho em mim." E isso, talvez, enxugará meu travesseiro.
sábado, outubro 13
Ovo mágico
Parece que a maré está baixando de novo. Parece que se passaram 10 anos,
e passaram. Eu cresci, mas nem meu coração, nem meus sentimentos, meus sonhos e
nem meu paladar cresceram comigo. Aquele sopro parece ter congelado
muito de mim.
Ontem a rosa não chegou inteira em casa. Fiquei triste ao perceber. Ao
perceber que as pétalas foram caindo aos poucos sem que eu pudesse
evitar. Ela desmanchou-se depois de chegar ao ápice de sua beleza. Como
as lágrimas que seguem as gargalhadas.
Depois de conformada, sonhei. Ontem eu sonhei e fiz questão de continuar
na cama. Sabe quando acorda mas volta a dormir para continuar sonhando?
Faz parte do meu cotidiano. Mas hoje foi diferente. Derreteu um
pouquinho de tudo aquilo que estava congelado.
O gelo também serve para conservar as coisas. Tem conservado a esperança daquela menina que eu sempre falo sem muita novidade.
Hoje estou me sentindo dentro de um ovo mágico!
Voltei!
Eu
voltei. Sinto que voltei pra mim. É tão bom me sentir em casa! Tá meio
bagunçada, tem que aparar as arestas, mas estou em casa. A reconheço.
Reconheço uma pequena felicidade que há muito tempo não sentia. Meu
Deus, eu voltei...nem acredito. Ponho a mão no meu rosto, está diferente
da última vez que estive aqui, mas é muito bom me reconhecer até numa
eventual lágrima que rola.
Os
cabelos maltratados, o excesso de peso, os dentes mais no lugar,
enfim...tudo diferente de como eu deixei, mas pretendo reorganizar!
Nunca pensei que alguém pudesse sentir saudade de si mesmo.
Ai que felicidade!
Vai dar um trabalhão pôr ordem nesse pardieiro, mas vale a pena.
Nem consigo escrever, de tamanha felicidade.
beijo
A Terra do Nunca Cessou
A insanidade está cochichando ao pé do ouvido. Talvez seja meu único momento de lucidez.
A Terra do Nunca cessou. Os ponteiros dos relógios estão apitando. Acho que tá na hora de descobrir além da minha imaginação.
Tapar o Sol com peneira só tá esquentando mais. Basta! Vou acertar os meus momentos.
Visitar a realidade de vez em quando não é mais o suficiente. Chegou a hora de abandonar o barco.
Era a Lua
Lá
estava eu. Pensando em milhões de coisas, sentada no banco especial,
com a cabeça na lua, voltando de vez em quando pra ver se tinha que dar o
lugar pra alguém..."Projeto, clima, vaga, sono, html, ele tá
exagerando, tenho que escrever o conceito criativo, ligar para Adriana,
acho que já tá chegando..."...um vulto para ao meu lado, interrompo
meu pensamento pra ver se ela é especial, mas fico horas olhando. Os
olhos claros sem cor definida destacando os cabelos laranjas,
contrastando com a pele quase albina e o batom vermeeeelho, passado além
do lábio, mas sem borrar. Não conseguia parar de olhar. Até levantava a
cabeça sem disfarçar para entender o que estava embrulhado no cachecol
verde e virava os olhos sem nem perceber. Aquela mulher me deixou alguma
coisa que eu não sei.
Ela
desceu num ponto, eu no seguinte. Olhava pra trás constantemente, para
os lados, pra cima e pra baixo e não via ninguém, mas tinha alguma
coisa. Andando até em casa, continuo aflita, para um carro cinza bem na
hora que fui passar, passei e ele foi. Não entendi. As milhões de coisas
voltavam misturadas com aquela sensação, interrompidas por uma garrafa
de plástico verde amassada no meio da rua e um carro que passava sem um
pedaço da frente. Ao virar a esquina, vinha aquele barulho do bairro,
que nem me irritava mais porque mal conseguia olhar para os lados. Tinha
alguma coisa, faltava alguma coisa, olhei cada degrau da escada para
verificar se não tinham ratos e desci ofegante em segundos. A rua estava
calma, um saia outro entrava, olhava para os lados e nada. Entrei,
olhei pro céu mais uma vez, e segui minha vida como se tudo não passasse
de esquisitisse minha.
Quando deitei a cabeça no travesseiro, já exausta de tudo, me dei conta que não tinha visto a Lua.
Chora
Os
olhos estão avermelhados. É curioso que tudo em volta esteja com
pintinhas, como se tivesse nascido em sardas. Sarda, arda, arde,
ardida. Eureka! Ela nasceu ardida, assim como os olhos estão agora! Ardida demais pra diplomacia. Demais pra fala mansa. Demais. E isso não é um elogio. Olha aqui um equívoco! Demais não, demasiada. Demasiada não confunde elogio.
Chora
menina. Chora que isso passa. Um dia passa. Espero que passe. Mas de
qualquer maneira, alivia. Pelo menos deveria aliviar esta angústia.
Angústia não, porque angústia é bonito de se escrever. Incompreensão,
talvez? Acho que não. Dor? Perdição? Esse não, pode confundir com paixão
e não é o caso.
Vai ficar feio se eu disser Eureka! de novo? Alarme falso, não encontrei nada que pudesse descrever essa...
Mas só de saber que dói, já é um avanço! Pelo menos dá pra chorar. Então chora.
Tá chovendo pra caramba
Nem
as máscaras têm trazido o ar de volta. E o "vai dar tudo certo" não tem
saido do verbo, quem sabe no futuro, mas preciso dele no presente, no
meu presente. Tá tudo tão abafado quanto ônibus em horáro de pico, e não
consigo sair desse engarrafamento, preciso de um atalho já! Ou não sei
se vou aguentar, mesmo que eu finja não poder imaginar.
Eu que sempre amei os porquês, tenho os evitado, já que as incógnitas têm formado minha inútil segurança. Minhas esperanças.
E mais uma vez, esperando.
Plágio?
É impressionante como tudo o que leio me atinge. Me assusta. O que te parece psicar vermelho no porto de confidências e desinteresses ácidos? Pra mim, muito.Assim desarrumado, vasto, íntimo, tudo fora do mundo,
no espaço, dentro de mim. Acredite, faz sentido aqui. Eles decifram e
juntam as pontas do baralho, fazendo um ponto só pra eles, e eu nunca
consigo entrar no jogo. Curto e direto. Poético.
Quando
junto tudo isso, e descubro o que realmente quero falar, já virei
plágio do que penso e a censura do que eu sinto. Caindo sempre no mesmo
lugar, justificando, para convencer a mim mesma que manter isso aqui tem
sentido, e tentando convencê-los a não me julgarem pelo que escondo,
nem pelo que revelo. A não me julgarem pelo que sou. A não me julgarem.
Pois já nasci em processo, e já escolhi meu juiz. O Juiz. O problema é
que eu mesma sou a promotora e crio provas contra “eu” (não está errado, sou eu mesma. O mim não
alcança meus delírios.), deixando que a defesa fique apenas por minhas
lágrimas, que, com simples ameaça de caírem, revelam meus sonhos,
desejos e dores. Lembram que sou humana, e tentam justificar o meu jeito
de me existir. E mais uma vez.
Mindinhos
Todos os dias, sem intervalo, os dedos mindinhos sangravam. Era o preço
que pagava por ter mindinhos tímidos. É, isso mesmo! Tímidos! Suas
cabeças são para baixo e sempre entravam em atrito com o carpete. Hoje
em dia só ando de chinelos em casa e é tudo azulejado, pois também
atacava meu nariz. E, além disso, as únicas coisas que o machucam são
sapatilhas em dias de chuva e raros saltinhos, só que esses também pegam
atrás, aí viram bolhas quentes e dolorosas, mas enfim, só machucavam
porque eu era feliz. Ai...éééé, não torce o nariz! É que eles entravam
em atrito de tanto eu dançar em frente ao espelho que tinha no corredor
da casa velha. Uma de quando eu era pequena, eu amava machucar meus
dedos naquele carpete marrom. Que saudade. Apesar de tudo, lembrando
agora, aquela casa tem muita história, muita mesmo. A gente mudou pra lá
de verdade depois que a outra parte da família saiu, acho que eu tinha
uns oito ou nove anos.
Tinha
dois quartos, um dentro do outro, um banheiro gigantesco, dava até para
brincar de pega – pega, a sala, a cozinha, com azulejos verdes com
preto (hahaha, eram horríveis!), o corredor em frente ao banheiro, bem
pequeno, com um espelho grande, que a gente tem até hoje, a lavanderia,
um quartinho de bagunça, que eu não entrava nem por decreto, o quintal
todo de cimento, também gigantesco, o portão azul e o jardim cheio de
mato, só com um pé de cana e um de romã. E mesmo assim, eu acho que eu
nunca comi romã...não lembro.
Na
verdade, lembrei da casa muito por acaso. O que sinto falta mesmo é dos
meus dedinhos machucados. Minha mãe ia dormir e eu continuava dançando,
até eu deitar no sofá, pegar no sono e ir para cama. E isso toooodos os
dias. Só sentia as consequências nas manhãs corridas e chatas dos meus
dias.
Depois,
eu dançava na sala, depois na sala do apartamento....até que aos poucos
eu fui perdendo o ar e o meu tempo com responsabilidades. Mas é bom
lembrar...só não gosto muito de ver meus mindinhos sem sangrar.
Covio
Desde
muito tempo tenho pânico de cobra. Cobra bicho e Cobra gente. A bicho
porque não tenho forças para lutar com ela. Não gosto de ver nem em
filme/foto/desenho/sonho/qualquer coisa. Luta por comida, luta por vida.
E a Gente? Não luta. Engana. Machuca. Por prazer. Por maldade. Por
interesses. Tudo muito além do necessário. Os abrigo no meu nariz. Pior.
Desfruto. Compartilho. Choro, mato e brigo. Me escondo na desculpa e
gozo das diferenças entre mim e o mais pobre que eu. Somos crueis. Não
somos bichos. Um covio. Pior. Somos Gente. Só literalmente.
Tenho medo de bicho. Tenho muito medo de gente.
Ela era assim
Vaidosa,
alegre e rebelde. Cabelos encaracolados, olhos curiosos e bochechas
rosadas. Apaixonada. Ela era assim. Se embebedou de ilusões e entregou
até a última gota de um amor inocente e puro. Sofreu como se não
existisse mais nada no mundo. Ergueu a cabeça. Afinal, só tinha 13 anos.
Daquele dia em diante, viveu cada dia como ressaca de um porre que
nunca tomou. Mas viveu.
Caminhos
Já são 50 minutos dentro do ônibus e nem metade do caminho. Deveria ler algum dos muitos livros que tenho de ler, mas é de farol em farol que alterno essas palavras sem ânsia. Passando por uma placa "SAÍDA DE CAMINHOS", ou melhor,"SAÍDA DE CAMINHÕES". Por um instante pensei que existisse uma saída antes da Paulista e antes de levar uma bolsada na cara.
É
difícil prestar atenção no caminho, também me dá ânsia, mas pra onde eu
olho, vejo rostos e pensamentos escritos nas paredes, e cada vez mais
penso que esse caos é apenas cenário da loucura que é ser só mais um
existir no meio de milhões de existências. E que cada um tem sua
história pra contar, mas sinto que minhas ideias estão escorrendo por
entre os dedos. Alguém tem alguma sugestão? Porque a única coisa que sei
é que gosto de identidade particular. De imaginar cada pessoa que me
chama a atenção, como esse cara de óculos escuros que está ao meu lado
no ônibus. Não sei se está dormindo ou lendo o que estou escrevendo.
Bom, se for o segundo, já sabe que eu percebi. Espera, tenho que descer,
quase perdi o ponto...
...estou
esperando o segundo ônibus. Em frente, do outro lado da rua, tem um
bordel, casa de tolerância, ou como queira chamar. Sempre olho pra lá
porque sempre têm situações curiosas na porta. Neste momento tem uma
mulher, de baixa estatura, de cabelos bem crespos, bem crespos mesmo,
com um blusão e o capuz na cabeça, suja e maltrapilha. Ela está torcendo
a blusa, na altura do peito, de um cara de boné, com os braços cruzados
olhando fixamente pra ela. Ela parece estar nervosa, está gesticulando
com as mãos, como se tivesse ameaçando-o. Solta e segura a blusa dele
várias vezes, sai e volta outras tantas. O ônibus está chegando, não dá
pra ver direito, está lotado, mas eles estão um ao lado do outro
encostados na parede, e continuam falando. Aos poucos vão se
afastando...como qualquer outra história que não me pertence.
Foto por: Jules Itier
"Dirty Dance"
Não
sei bem o que acontece comigo. Dentro. Acho que me coloco na pele da
Baby, na do Billy Eliot, da menina de "Ela dança eu danço", ou apenas em
uma das minhas. Tantas peles de um sonho. Sonho. Sou como a menina
invisível. Em mim, a maior bailarina de todos os tempos. A
invisibilidade é o figurino, o ritmo é o fogo que queima todo o corpo e o
espaço...não existe. Não existem gravidade, pista ou pessoas. Não
existe nada além dos dois: o ritmo e a menina. E quando surgem os
aplausos e o filme acaba, ou quando a mãe chama na porta, trancada, do
quarto, tudo volta a existir e restam apenas dois: a menina e o sonho.
Tornarei-me visível...algum dia.
19 de mim
É.
19. Não mudou nada. Mas me fez pensar bastante. Não posso me dar ao
luxo de aprender e renovarme só a cada ano. Não sou de tapinhas nas
costas no Ano Novo e no Natal. Não gosto de compactuar com tanta
hipocrisia. Eu quero renovarme a cada dia, a cada momento, a cada erro.
Se deixar tudo pro final, fica muita matéria para aprender e não aprendo
direito.
Ontem
me dei o luxo de dormir até 10h. Brinquei de comidinha e preparei o
almoço. Não é porque era aniversário que podia esquecer as
responsabilidades, então fui resolver algumas coisas pendentes. Fui na
igreja. Comi uns pedaços de pizza e um bolinho com minha mãe. Aproveitei
para fingir que a gulodice só existe em dia de festa.
Eu
não sei porque, têm pessoas que mal me conhecem, e já pensam que sou
alguma coisa. Isso me preocupa...e se depois me acusarem de propaganda
enganosa? Não sou nada. Ninguém. Só uma adolescente qualquer que escreve
aqui por não pensar. A julgar por isto mesmo...roxo, fofinho, textos
bobos, com as entrelinhas cheias de filosofia adolescente, barata, sem
nenhuma cultura ou jeito com as palavras. Espero, realmente, que não
tire conclusões por aqui, porque não penso. Mesmo.
As
vezes não é tão bom ouvir que é orgulho para alguém, ou que é isso ou
aquilo. Isso trás certas responsabilidades, e já estou lotada delas para
adolescente. Porque é isso que sou. E depois não vai voltar...
Ficar em casa
23h.
Chega a condução. Num empurra-empurra, consigo passar entre eles e
entrar. Quase que decepcionada, encontro um banco, lá no fundo, lindo,
azul claro com detalhes amarelos, o último deles. Com um momento de
descanso nas mãos, minha cabeça ainda latia de medo da nota, mas aquele
momento me dava um imenso prazer. Até que...lá vinha, de moleton verde
escuro, de média estatura, em câmera lenta, ameaçava tirar algo do
bolso...um objeto suspeito, muito parecido com um celular. Mas pera aí!
Um celular não vem com fones? Sim, mas ele era cruel. Tirou do bolso,
com um olhar fulminante, e apertou o botão. Um agudo de copo quebrando
balançava minha paciência, que é tão firme como uma pirâmide de cartas.
Latia, latia, batia no tímpano com martelo. E o que eu mais temia,
aconteceu. Vagou o banco ao meu lado, e advinha...é isso mesmo. Sentou
ao meu lado sem nenhuma dó, e passou música por música. O que matinha a
pirâmide de pé, era a proximidade de casa. Desci. Um alto silêncio tomou
conta de mim, até que meus olhos doeram com a luz ardente do
semáfaro...não lembro de mais nada. Só da vontade de, pra sempre, ficar
em casa.
Fugi de mim
Me
disfarcei para fugir, e consegui. Agora, não consigo tirá-lo...dói mais
do que se tivesse ficado e enfrentado. Com medo de quebrar a cara,
quebrei muito aqui dentro. Mas vou sobrevivendo em mim, juntando os
pedacinhos que eu mesma deixei aqui. Fugi de um lado, e fui para outro
bem mais complicado. Há muito esqueci, mas também tinha esquecido de mim
e parei num labirinto sem fim. Não era o que queria, mas o que ainda me
guia é a luz que está acima, e aos poucos, vou encontrando o caminho de
volta a mim.
Gota
Uma
menina, eu sei. Até me ofende se me chamar de mulher. Bobagem? Talvez.
Vontade de preservar a flor da meninice. Menina de sonhos. E foi aquele,
o maior deles, que me veio acordada no caminho de casa. No caminho,
parei na virada e dancei, dancei, dancei a noite toda. Tinha muita
gente, mas estava sozinha em mim. Em minha plenitude de ser. No egoísmo
do prazer. Até as unhas dançaram. Sentia o suor correndo por mim, como
se estivesse no banho. Cada gota de emoção, eu senti. Uma delas caiu no
teclado.
Minha lágrima, de menina dançarina, anda sonhando.
Laço
voltei...
depois
de derreter muito, não se assuste com o que encontrar aqui, estou
procurando uma fôrma legal para moldar o meu espaço, para que seja cada
vez mais meu...
Pensando
em textos que me estalaram nas madrugadas árduas de trabalho, mas que
não podiam me ser escritos com pincéis marrons. Estou procurando-os.
Acho que se perderam no mar doce da minha imaginação, ou estão presos
nos laços do meu inconsciente...
Vamos
ver se os encontro. Embrulharei num papel preto de bolinhas brancas, ou
num liláz com um laço verde limão, para dar-lhes de presente do meu
coração. Ou apenas deixarei desenhado no coração para que cada leitor o
visite, e deixe-me sua marca.
Veremos...
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