sábado, outubro 13

Caminhos




 são 50 minutos dentro do ônibus e nem metade do caminho. Deveria ler algum dos muitos livros que tenho de ler, mas é de farol em farol que alterno essas palavras sem ânsia. Passando por uma placa "SAÍDA DE CAMINHOS", ou melhor,"SAÍDA DE CAMINHÕES". Por um instante pensei que existisse uma saída antes da Paulista e antes de levar uma bolsada na cara.

É difícil prestar atenção no caminho, também me dá ânsia, mas pra onde eu olho, vejo rostos e pensamentos escritos nas paredes, e cada vez mais penso que esse caos é apenas cenário da loucura que é ser só mais um existir no meio de milhões de existências. E que cada um tem sua história pra contar, mas sinto que minhas ideias estão escorrendo por entre os dedos. Alguém tem alguma sugestão? Porque a única coisa que sei é que gosto de identidade particular. De imaginar cada pessoa que me chama a atenção, como esse cara de óculos escuros que está ao meu lado no ônibus. Não sei se está dormindo ou lendo o que estou escrevendo. Bom, se for o segundo, já sabe que eu percebi. Espera, tenho que descer, quase perdi o ponto...

...estou esperando o segundo ônibus. Em frente, do outro lado da rua, tem um bordel, casa de  tolerância, ou como queira chamar. Sempre olho pra lá porque sempre têm situações curiosas na porta. Neste momento tem uma mulher, de baixa estatura, de cabelos bem crespos, bem crespos mesmo, com um blusão e o capuz na cabeça, suja e maltrapilha. Ela está torcendo a blusa, na altura do peito, de um cara de boné, com os braços cruzados olhando fixamente pra ela. Ela parece estar nervosa, está gesticulando com as mãos, como se tivesse ameaçando-o. Solta e segura a blusa dele várias vezes, sai e volta outras tantas. O ônibus está chegando, não dá pra ver direito, está lotado, mas eles estão um ao lado do outro encostados na parede, e continuam falando. Aos poucos vão se afastando...como qualquer outra história que não me pertence.


Foto por: Jules Itier

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